sábado, 14 de janeiro de 2017

Coração Bulímico


Somos privilegiados, somos a geração que conquistou a chance de manter contato com o maior número de pessoas possível. 
Amigos, família, colegas de trabalho, clientes e até astros do rock, celebridades, autores de livros preferidos, enfim, estamos bem perto daquilo que antes era tão distante e de difícil acesso.
Nas redes sociais, presente, passado e futuro se unem numa explosão de convivência que rompeu a barreira do tempo e espaço.
Quando eu era criança o máximo que eu conhecia e convivia era com a turma da rua de trás, alguns vizinhos, os coleguinhas da escola, e a família, e olhe lá.
Tínhamos poucas chances de estar junto de quem gostávamos, tínhamos menos oportunidades para estar em comunhão, para brincar, para conversar e declarar nossos sentimentos por quem amamos.
O bate papo tinha que esperar o almoço de domingo, as férias, os aniversários, casamentos, o futebol do fim de semana, as reuniões da escola, natal e feriados prolongados.
As chances de estar em contato com as pessoas eram pequenas, grande mesmo era a vontade de ter uma maneira de ficarmos juntos por mais tempo.
Pois bem, o tempo passou e o desenvolvimento da ciência, tecnologia e informação, e voilà , temos o advento da internet, a expansão das comunicações, transformação da telefonia, os celulares, as mensagens de texto,  o correio eletrônico, os smartphones, as redes sociais, as ligações de longa distância simplificadas, não existe mais um lugar longe demais que você não possa se conectar a outras pessoas a hora que desejar.
QUE MARAVILHA!!!
Deveríamos ser a geração mais feliz de todos os tempos.
Mas, porque será que isso não está acontecendo? Porque será que estamos sendo reconhecidos como a geração mais depressiva, mais egoísta e mais solitária? Porque é tão grande a facilidade para estarmos juntos e cada vez mais nos sentimos sozinhos? Porque o número de suicídios, de divórcios, de rompimentos e separações nos relacionamentos em geral, aumentou?
Por quê?
Eu criei um conceito: Não adianta ter fartura em contatos, se perdemos a sensibilidade. Temos mesa farta para os relacionamentos, mas, nosso coração é bulímico.
Temos todas as oportunidades do mundo de nos relacionarmos da melhor maneira possível, de sermos fartos de carinho, amor, atenção e companhia. Mas, adquirimos um distúrbio que chamo de “Bulimia Relacional”, caracterizo pela ingestão excessiva de relacionamentos, um sentimento de descontrole na administração dos mesmos, um aumento exagerado de apetite relacional; Bulimia dos relacionamentos é quando a pessoa ingere em excesso diversos tipos de relacionamentos com diversos tipos de personalidades diferentes, e depois induz o vômito.
O bulímico relacional vive a expansão das oportunidades dos relacionamentos, mas seu coração não acompanhou o processo.
São pessoas despreparadas pra relacionar, despreparadas para lidar com as diferenças, com o excesso de informação sobre o outro e até sobre si mesmo, essa geração do coração bulímico é muito boa em se fartar de uma grande quantidade de pessoas ao seu redor, mas, é incapaz de lidar com as consequências disso.
As vítimas de bulimia relacional vomitam seus relacionamentos com a mesma energia com que os conquistaram. Amigos estão se tornando inimigos, estranhos, familiares estão hoje mais distantes do que antes, os amores, não passam de status num perfil on line de uma geração que está definhando, perdendo para si mesma. Fartas em oportunidades, mas com ânsia de vomitar o que tanto desejou.
Precisa-se de equilíbrio emocional, urgente! O problema não está na quantidade e nem na qualidade de relacionamentos que temos, o problema é não estamos permitindo que eles nos nutram, não sabemos extrair deles os nutrientes necessários para fortalecer a saúde dos mesmos, estamos simplesmente abrindo mão das relações por medo, e isso, adivinha?! Só faz mal pra você mesmo.

Danny Noronha Ramos
14 de janeiro de 2017.






quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Era mais simples viver...


Eu gosto muito de coisas simples, quem não gosta?!

Folhear um álbum de fotografias, ver retratos tirados naturalmente, capturando momentos que a mente as vezes não consegue guardar.

A memória nem percebe que esqueceu, até ver a cena outra vez no retrato. Uma foto, cabe uma história inteira de vidas.

Gosto de "textão", mas prefiro escrevê-los num papel de carta, assinar "com carinho", fazendo promessas de reencontro.  

Lacrar o envelope e enviar, contar os dias e as horas para chegar, enquanto isso sonhar com o sorriso que entrega vai causar. 

Admirar cada detalhe, a cor do papel, a dobradura, o cheiro, a letra,  a forma como o amor usou palavras para se eternizar, e a cada leitura, de novo, nos fazer suspirar.

Destinatário feliz, é sinal de resposta feliz, porque houve um tempo em que não se temia demonstrar amar. 

Os dedos conduziam o passo, marcado no compasso do coração, tatuado no papel com tinta de uma caneta.

Eu ainda prefiro deixar um coração desenhado no vapor do espelho do banheiro, colocar bilhetes escondidos pela casa, roupa, mochila, bolsa e até na geladeira.

Ainda prefiro a companhia de um tabuleiro que trás ao redor mais gente, jogadores, parceiros.

Sem a gente perceber dentro de uma caixa de papel com regras de um jogo existiam mais vidas unidas, nos ensinando a mais valiosa regra da vida, a convivência, a comunhão, disputas e diferenças iam embora no final do futebol de botão.

Era mais simples viver, e por mais simples que fosse, tornava-se incrível.

Nas desventuras aprendiamos a perdoar e no dia seguinte estávamos juntos a jogar, brincar, correr, pular, viver.

E nas aventuras, ah!  As aventuras, corrida de bicicleta, soltar pipa, imitar dancinhas ridículas de grupos musicais, fugir da bolada, se esconder e vencer, subir e descer, escalar árvores e sentir o gosto das primeiras conquistas, sentar na calçada da esquina, quartel general da rua, dividir histórias sombrias, ter medo, e mesmo assim querer tudo de novo na noite seguinte, éramos mais corajosos, mais audaciosos, éramos mais, porque não éramos tão sós.

Quando o mais fraco precisava de ajuda, ele não era excluído, simplesmente recebia o título de "café com leite".

Os pequenos deleites de uma vida rica, café com leite, banho com sabonete, travesseiro na hora de dormir, com a coberta vem abraço e beijo e pra ter certeza de um novo dia que ainda não veio era só pedir a benção dos pais e dormir em paz.

Ainda prefiro folhear as páginas do álbum de fotografias , deixar rolar memórias e histórias , escrever tudo que sinto, demonstrar com tudo o que posso, jogar, brincar, se aventurar, mesmo consciente de viver em um mundo com tantas desventuras.

Crer no poder, de cura para toda agrura, abraço bem apertado, rosto colado, voto de felicidade selado com amor e amizade.

Que privilégio viver. isso é dom, com certeza.

Isso é a vida, isso riqueza, isso sim é herança, é  nobreza. 

Danny Ramos
08 /11/ 2016

Sendo feliz com quase nada

Eu conheço muitas dores, em muitos tons e cores Algumas dores nos fazem parar por um instante Colorem nosso azul em vermelho sangue Outras n...